quarta-feira, 26 de março de 2008


VÁRIAS COISAS QUE EU ODEIO EM VOCÊ.

Graça Marina estava largada sobre a cama com o ar de desânimo. Os cabelos ruivos e curtos estavam revoltos e suas sardas pareciam estar ainda mais acentuadas com a expressão confusa que se desenhava em sua face.
- Não daria certo, não daria certo... – repetia Graça Marina num murmúrio quase que para si.
- Só não entendo por que não daria, benhota, o cara é must! – Ligia Cassiana andava de um lado para o outro com os olhos voltados para cima, como quem buscava uma iluminação de paciência.
- Você não entende Ligica!! Ele... Ele... me chamava de Fofurex!! Pôo, precisa ficar jogando na minha cara que eu estou gorda assim?? – Graça Marina exasperava-se.
- Gorda só se for no cérebro, "vamô combiná" né benhota! Você tem que ser sensível, ele estava querendo ser carinhoso com você... Mas se não está gostando do apelido pode simplesmente pedir a ele que não a chame assim, que encontre outro apelido. Não precisa terminar o relacionamento por isso! - Disse ela levemente passando os olhos sobre as roupas jogadas no sofá - Que blusa arrasadora é essa benhota?? Abalou a nação!
- Gostou? Comprei numa liquidação na terça passada, adivinha? Vintão minha querida, chupa essa manga!
- Ahh maldade para com a minha pessoa heim!
- Sabe o que também? Ele corta o macarrão! Isso corta o meu coração. É inadmissível!!! Sou de família italiana, imagino eu apresentá-lo: "Papa... este é meu namorado, Gleisson Sergyo, ele corta spaghetti para comer". Será uma desgraça anunciada.
- Nossa que cabecinha fértil heim benhota! Isso aí se resolve fácil também, é só ensiná-lo a comer enrolando os fiozinhos com a ajuda da colher lá.
Graça Marina se limitou a suspirar triste. Totalmente descontente com sua situação.
- Sabe o que eu acho Gracina? Que está procurando motivos onde não existem, só para continuar com o papel de "Maria Mercedez" em sua vida. É isso aí benhota, ta querendo se fazer de vítima, dizendo que não acha o cara certo, bla bla bla. Mas também não se dá à chance, fica aí só exigindo isso e aquilo. A vida não é assim não, benhota. Tem que ser mais aberta! – Ligia Cassiana estava lá a sua frente falando, falando, sem na verdade despertar a atenção de Graça Marina. Ela estava surda e cega. Empacada como uma porta estava decidida a romper com Gleisson Sergyo.
- Ele é magro demais. Faz-me parecer ainda mais gorda! O perfume dele? É sempre mais forte que o meu! Ele adora restaurante por kilo... Ele bebe campari, é broxante. Ta sempre falando na mãe dele. Odeio aquela camiseta de time que ele insiste em usar 3 vezes na semana...
- Ok, ok, ok Srta. Eu Não Suporto Nada, já entendi!!! Larga do Sergito então, mas eu te digo homem no mercado não ta fácil não heim, você ta largando um cara muito gente boa pro mulheril aí fora viu.
- Ta, eu falo o que realmente me incomoda! – Graça Marina desprendeu o desabafo do fundo da alma. – Quando a gente... é... você sabe...
- Trepa!
- Aiii, não fala assim... Quando a gente tem relação.
- To vendo minha velha professora de ciências falar esta palavra: R – E – L – A – Ç – Ã – O.
- Vai deixar eu falar? – Graça Marina arqueou as sobrancelhas questionando-a e diante ao silêncio prosseguiu – Ele sempre geme assim quando vai gozar: "ai ai ai, ui ui ui, ai ui, ai ui" e aí goza. Sempre igual! Não suporto!
- Sério? – Ligia Cassiana chegou a duvidar. Mas a amiga assentiu com a cabeça. – Vixi benhota, aí não dá, aí não tem como...

quarta-feira, 12 de março de 2008




SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A MORTE.



“À noite de 27 de Fevereiro era aparentemente calma, estávamos em casa (moro com mais três amigas) com um nosso amigo nos visitando. Riamos. Brincávamos. Até o telefone tocar. O segundo de silêncio ao que nosso amigo atendeu a ligação, precedeu o desespero. Tudo começou a girar numa velocidade estranha e mórbida. Ele estava recebendo a noticia que o grande, para não dizer o melhor, amigo dele acabava de morrer assassinado. Tanto ele, quanto uma de minhas amigas que moram comigo, trabalhavam com este rapaz. O clima foi de descrédito. E de profunda sensação de impotência. Por que meu Deus?”

A história que narro acima é realmente verdadeira. Aconteceu sob minhas vistas, em minha casa. E o caso que falo é do Alexandre Martins de Paula, de 25 anos, funcionário da TV Cultura morto em um seqüestro relâmpago por reagir. O episódio fez-me refletir.

Todos querem manter suas poses de bons cidadãos quando na verdade na prática tudo é muito relativo e hipócrita. O entendimento só cai sobre sua cabeça quando ela, a violência, literalmente bate a sua porta. E desta vez, aconteceu, dentro de minha casa.

A lei da violência é um ciclo vicioso do qual você, eu e outros fazemos questão de não sair de dentro. De alguma forma, todos acabamos contribuindo para isto acontecer. Seja com nosso silêncio. Seja com uma propina. Seja como o empresário que não dá oportunidade de trabalho ao mais humilde. Seja com um baseado que você fuma.

E este é o ponto chave que quero atingir. Uma minoria rouba porque os 5 filhos passam fome e não tem oportunidade na vida. A maioria rouba porque já está completamente
impregnado pelo mundo do crime, principalmente o mundo do tráfico. Alexandre Martins, não foi morto, porque quiseram pegar o carro dele emprestado para levar uma namoradinha no cinema. Foi morto, porque provavelmente, os infelizes cegos pelo vício “precisavam” roubar (e matar!!!!) para manter-se drogados.

E você, que fuma o seu baseado “inocente” está contribuindo SIM para este cenário permanecer real. Você compra alguns poucos reais de maconha, e por isso sente-se menos culpado. No entanto, se você não existisse e ninguém mais comprasse, esse sub-mundo estaria falido. Pois, é de grão em grão que a galinha enche o papo. Se todos pensassem: “Não sou eu que farei a diferença” o que seria de todos nós?

A sua vida depende de você, e o quão covarde vai ser de não assumir a sua responsabilidade na sociedade? O quão irá sempre pensar de se achar um ninguém ao mundo. Um cidadão sem voz. Um ser humano sem atitude? Quantos vão precisar morrer para você entender que parte daquele gatilho puxado veio de seu dedo. Por sua apatia. Por seu medo. Por sua indiferença já que não foi um dos seus que sofreu a violência.


Por favor, seja “a diferença”. Seja a favor da vida.