quarta-feira, 17 de junho de 2009

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"E DE REPENTE DESCOBRIU...
(Ela tinha medo de voar de avião)"


Dulce Leila andava de um lado para o outro e repetia baixinho:

- Eu não vou. Eu não vou. Eu não vou, não.

Sandro Saymon suplicava ao céu paciência com sua esposa. Ali estavam eles na sala de embarque do aeroporto prontos para embarcar quando sua esposa surpreendentemente surtou e não queria mais ir a lugar algum.

- Buzunga, my honey, temos que ir!

- Temos nada! As únicas pessoas que realmente têm que ir são meus pais! São eles que vão “re-casar”. Ema-ema. Oh, oh nem aí se o resto vai. – ela falava e gesticulava com gestos de descaso.

- My girl, you know! Não é assim! – ele beirava o desespero – É importante para os pais ter toda a família em sua boda. Principalmente a filha. FILHA ÚNICA, Dulce Leila! For God Sake!

- E por que não fizeram aqui em São Paulo? – Ela o olhou falando muito sério.

- Porque eles moram na Bahia! Porque sua família é toda da Bahia! Plis, buzunguinha, o que acontece com você?

- Eu não entro nesse avião!

- I don’t belive! Zunga você nunca teve medo de avião.

Sandro Saymon desacreditava sua mulher nunca teve medo de vôos. Viajar para a Bahia era até corriqueiro.

- Buzunga, my dear, o avião é muito seguro...

- Foi exatamente o que disseram aos passageiros do 447!!!

- Ah ta explicado! Você está impressionada com este acidente, Darling. Fique tranqüila, nada vai acontecer, pense só na felicidade dos seus pais ao vê-la! Eu vou estar ao seu lado o tempo todo.

Dulce Leila olhou ressabiada como se pensasse na causa por um segundo, mas por fim tornou a dar o contra.

- Ah que romântico morreremos juntos. E-U N-Ã-O V-O-U. Tem papel e caneta Sandro Saymon?

- Não, por quê?

- Porque quero te fazer um desenho!

Dito isso, soou a última chamada para o embarque, eles se entreolharam tensos. Mas ela logo juntou suas coisas e saiu falando:

- Well my Love, eu vou para casa, mas se você quiser embarcar para Lost, a última chamada foi esta...

terça-feira, 9 de junho de 2009

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O VELÓRIO

Mario Mauro estava ali parado com o semblante sóbrio. A sua volta algumas pessoas choravam, se lamentavam e se consolavam umas as outras. Ele tentava dimensionar o quanto daquele momento ali vivido influenciava a vida de cada um. E foi nesta hora que ele entretinha-se com seus pensamentos que Magda Mariana adentrou o velório. Ela chorava muito, mal olhou o falecido sobre o caixão e parou do lado de Mário Mauro. Assim automaticamente ele sentiu vontade de saber quem era ela.

- Vai descansar em paz, era um bom homem. – Mário Mauro puxou o assunto.

Pela primeira vez ela o olhou. Mediu seu corpo magro, pelo branca como leite e cabelos espessos. Terminou pousando seu olhar magoado sobre os olhos dele e deu com os ombros.

- Bom, o cacete! Esse homem era o cão! Nasceu para me atormentar e morreu para me fazer feliz!

Mário Mauro indignou como ela podia falar assim dele? Justo naquele dia?

- Senhora me desculpe, mas quem é para falar assim dele?

- Eu? Pois é, quem sou eu!? Perdi a identidade quando dei minha vida a esse trouxa. Deixei de ser eu mesma, para ser quem ele queria.

- E o que ele queria que fosse? – ele estava bastante curioso sobre a ligação dela e do finado.

- Ih... Tanta coisa! Para esse cachorro eu fui enfermeira, aluna, policial...

Mário Mauro assombrou, estaria ela falando mesmo do que ele imaginava? Fantasias sexuais? Olhou para o morto e pela primeira vez sorriu. “Ah muleki doido!”.

- Ta, eu confesso, a jovialidade dele me encatava! Dava no couro sim! – O semblante de Magda Mariana por um segundo suavizou, mas logo tornou a ficar transtornado. – Mas de que valia? Era um ciumento doente!

Ele não entendia nada. Olhou mais uma vez o caixão onde ali ganhava o descanso eterno um homem de cabelos brancos, rugas bem marcadas, idade avançada. Jovialidade? Dar no couro? “Ah tiozão malandrão”.

Desta vez foi a vez dele mirá-la de baixo pra cima. Sua pele era moreno jambo, seu corpo tinha um bom desenho, os seios não eram muito grandes, mas a compensação vinha na bunda. Os cabelos tingidos de loiro mel e caiam sobre seus ombros em uma escova puxada para fora. “Ah tigrão sabidão”.

- Desculpa senhor, mas não acho que seja uma boa hora para xingá-lo. A família está toda aqui inconsolável.

- Família? Bando de falsos moralistas. Cambada de loucos! Aquela tia varizenta, meu sonho é jogar água quente em seu ouvido. Nunca gostaram de mim!

Mário Mauro olhou em volta e tentou adivinhar quem ela chamava de tia varizenta.

- Diga-me uma coisa, se tem tanta raiva por que veio aqui?

- Porque eu o amava! Cachorro, o que tinha que me deixar? Eu dizia para ele se livrar da maldita moto! – dito isso, caiu copiosamente no choro.

- Moto? Mas pelo o que eu sei ele morreu de infarto.

- Ele? Eu não falo dele! Eu nem sei quem ele é! To falando do Edivânio Marlon que está na sala ao lado. Saí de lá porque não agüento nem olhar na cara do canalha. Mas esse aí, quem é, parente seu?

- Ah não, eu trabalho aqui. Só vim dar uma última olhada se esta tudo certo, acabou meu turno. Aceita tomar um suco numa lanchonete aqui perto? Prazer, Mario Mauro.

- Oi, Magda Mariana, Claro! Mas antes vamos passar mais uma vez em Edivânio Marlon, só para ele te ver e saber que estou seguindo a minha vida...

Mário Mauro tentou não pensar de como um morto poderia “vê-lo” e preferiu dirigir seus pensamentos a uma certa fantasia de policial...


quarta-feira, 3 de junho de 2009

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 MAIS UMA HISTÓRIA DE UM (NÃO) AMOR.

Mesma turma de amigos. Alguma simpatia instantânea. Um tempo ocioso. “Deixem que digam , que pensem que falem , deixa isso prá lá, vem pra cá, o que quê tem?”. Vânia Tatiana e Jason Aldo não tiveram uma paixão fulminante a primeira vista, apenas se deixaram levar pela leve brisa que corria por ali.

Oportunos ao momento decidiram ficar juntos. Vânia Tatiana por uma maré de maus acontecimentos sentia-se carente e frágil, logo a companhia dele veio a calhar.

Por um outro lado, ele, Jason Aldo, vinha de uma término de relacionamento duradouro e complicado. O aparecimento dela em sua vida veio a calhar tão quanto para Vânia Tatiana.

Juntos riram de muitas coisas. Apoiaram-se nas lágrimas. Passearam, assim como,  também viveram a rotina de uma casa. Dividiram sonhos, anseios e medos. Dividiram também algum passado e até mesmo arriscaram planejar algum futuro.

Tudo ia bem, isso se toda história não houvesse “porém”... Porém não se amavam. Porém existiam ligações do passado que os mantinham presos. Porém era mais amizade do que relacionamento. Porém eram criações diferentes. Porém eram naturezas desiguais...

E mesmo tudo parecendo ir bem, em um dia comum, com a rotina comum do casal... Vânia Tatiana recebeu algumas mensagens e telefonemas de Jason Aldo como de costume, mas um destes telefonemas a deixou em alerta. Ele com um tom de voz que ela nunca ouvira pediu para que pudessem conversar a noite.

Naquele dia Vânia Tatiana até foi mais cedo para casa e já o encontrou no portão de seu prédio. Jason Aldo sem muitas justificativas e em poucas palavras proferiu o fim. Assim, como tratamento de choque. Sem que desse a ela tempo de digerir a informação. Sem que desse a ela a oportunidade de lutar pelo direito do “por quê”.

Jason Aldo decidiu por bem terminar antes mesmo que todos os “porém”dominassem a relação. Vânia Tatiana decidiu por mal eliminar assim ele de sua vida.

Jason Aldo decidiu por mal uma maneira ruim de comunicar a ela seus pensamentos. Vânia Tatiana decidiu por bem manter a amizade com a família dele. 

Jason Aldo decidiu por bem justificar-se aos amigos mais próximos. Vânia Tatiana decidiu por mal contar a todos como se deu o fim.

Eram duas versões diferentes de um mesmo relacionamento. Eram duas interpretações de um fim. Não havia alguém 100% vitima, vilão ou correto. Porque assim era a vida: é o que tem para ser. Nem tudo se explica, algumas coisas apenas se engolem. Porque lá na frente o mais obvio será explicito: de toda experiência sempre haverá um (ou mais) aprendizado...