quarta-feira, 30 de junho de 2010


AINDA MORRO DISSO.

Sinto-me como estivesse começando um testemunho de igreja ou então um depoimento no AA. É como se confessasse algo que é proibido, mas não acho que realmente seja. São 23hs e acabo de chegar do trabalho. Acabo de chegar do escritorio que entrei as 08hs. Uma rotina normal em minha vida.

Trabalho com eventos e como vocês devem imaginar é um trabalho de horários diversos, acontecimentos inesperados, resoluções rápidas. E claro, tudo para ontem, quando não, para antes de ontem.

Moro sozinha, pago minhas contas e (infelizmente) não venho de família rica, o que não me dá muita opção, a não ser a de trabalhar. Pois, se não trabalho, as contas acumulam. A comida não chega a mesa. A vida não acontece. O que mais eu poderia fazer?

São Paulo também ajuda a vida ser corrida. Ajuda os horarios nos pressionar. O transito nos enlouquecer.

Tem mais ou menos um mês adoeci por conta do stress. Não falo de uma simples baixa imunidade que me causou uma gripe. Falo de uma convulsão e 10 longos dias sem me levantar de uma cama, sem voz para falar, sem poder comer e até para beber água chorar de dor. Culpa minha? Será que eu pedi mesmo para ter um colapso? Meu corpo pediu? Pode ser que sim, mas não é propositalmente que hajo.

Você deu a sorte de ter a profissão da sua vida? Eu dei. E toda vitória, tem uma batalha. Toda conquista tem um preço. Porque não seria eu a pagar? Pago sem medo. Sem arrependimento. E por mais que venha parecer clichê: a vida é feita de escolhas. Você pode escolher ter uma vida comoda ou você pode ir atrás do que você quer. Do que faz bem. Do que o fará feliz! Por que seria eu a escolher o mais fácil?

Trabalho porque gosto muito além do que preciso. Todos os dias olho as pessoas nas ruas indo para trabalhos que nunca quiseram para si e agradeço a Deus por estar em um lugar que me permite ser eu mesma! Que me permite fazer o que eu sempre quis. O que me proporciona estar exatamente onde eu queria estar. Sou eu então a errada de fazer o que eu quis fazer exatamente para estar aonde eu queria estar?

Não me arrependo e se um dia eu morrer disso, pode acreditar, estarei morrendo feliz. Ainda na semana passada desmaiei em plena Av. Brigadeiro Luiz Antonio. Acordei com mil pessoas em cima de mim , algumas ligando para resgate e um senhor orando para que o mal saísse do meu corpo.

E quer saber? É isso mesmo: “Livrai-nos de todo mal, amém”. Que a vida continue como tem que ser e que Deus nos proteja durante ela.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

CONTO DE FADAS MODERNO

Zenaide Leticia nunca podia imaginar o final da sua noite, pois, tudo estava dando errado. Pense assim em tudo! A balada estava cheia de bebados. Seu amigo estava se “achando” demais. Sua amiga resolveu achá-la uma inimiga e dar stress de tpm. E para piorar no final da balada, após, pegar seu carro no valet, encontrou os vidros suados e os bancos reclinados. É preciso dizer mais alguma coisa?

Sendo assim, com tudo conspirando contra, ela decidiu que iria direto da balada para casa da sua mãe. Colo de mãe em horas assim era um ótimo calmante. Ainda que sua mãe morasse longe e ela estando sem dormir, achou que seria melhor do que ter que ir pra sua casa e ficar olhando para a cara da sua amiga que tanto tinha brigado nesta noite.

Rumo a residência materna no domingo com o sol já por raiar, ela seguia pelas ruas calmas, até no caminho, surpreendentemente o transito tornou-se lento em um ponto de uma grande avenida. Zenaide Leticia percebeu que era algo para ver que fazia que os carros passassem lentamente por uma certa altura da avenida. Quando foi na sua vez de passar pelo lugar o farol fechou e então ela viu o que se sucedia. Havia um rapaz muito bem vestido, bem apessoado, deitado na calçada. Assustou-se com cena, temerosa que o rapaz estivesse machucado. Ficou por uns segundos confusa se prestava assistência ou não. E se fosse uma armadilha? Uma isca para assalto? Mas seu lado cidadã falou mais alto. Estacionou, desceu do carro e cuidadosa se aproximou do moço. Chamou-o algumas vezes e por um momento temeu que ele estivesse realmente desacordado. Um mendigo também se aproximou da cena.

- Moço, ta tudo bem? – Zenaide Leticia insistia.

Pela primeira vez ele deu indicios de estar ao menos acordado, abriu os olhos, a mirou e fez uma cara de pouco caso, como se dissesse: “Não me enche o saco.”

- Moço fala comigo, você está bem?

O rapaz vendo que seria ainda por um tempo importunado, levantou-se, bateu a poeira da calça... Olhou para ela e resmungou que tudo estava bem.

Com ele assim de pé, e com o nervosismo de achar que ele estava machucado dissipado, Zenaide Leticia pode reparar que o misterioso homem da calçada era até que bem bonito. Tinha a cor do sol sobre a pele. Os cabelos pretos espessos...

- Você ta precisando de alguma coisa? Está passando mal? – curiosamente sentiu vontade de ficar por ali conversando mais um pouco com o desconhecido.

Sem ter muita opção o moço que não quis se identificar, deixou-se embalar por uma conversa. Disse que não lhe contaria o porquê de estar deitado na calçada. Que isso seria algo que talvez um dia ela viesse a saber, tudo que poderia adiantar é que ele tinha tido uma péssima noite. A mesma noite ruim que por coicidência ela também tivera. Conversaram sobre trabalho, pessoas, vida. Levaram a conversa para uma padaria próxima. Tomaram café da manhã e conversaram ainda mais. O papo fluia, assim como a hora passava sem que eles sentissem.

Quando o dia já estava alto, decidiram que tinham que ir pra suas casas, ela deu carona para ele que não morava muito longe. Se despediram com a sensação que faltava algo. Trocaram telefones timidamente. Mas mesmo assim a sensação de vazio não nos abandonou. Enquanto Zenaide Leticia estava apenas a uns quarterões para frente de onde o deixou, o telefone tocou.

- Sabia que fiquei com uma vontade louca de te beijar?

Com uma desculpa esfarrapada que tinha policia proxima a ela, ela embaraçosamente desligou logo sem nada mais dizer. Mas compartilhava da mesma vontade e foi com este pensamento que fez o retorno e seguiu rapidamente para onde havia o deixado. Encontrou-o novamente na calçada, mas desta vez em pé parado, sorrindo a esperando.

- Eu sabia que você voltaria. – com essas palavras puxou-a para fora do carro e longamente a beijou.

A história parecia loucamente romântica, e por dois meses, eles viveram um lindo conto de fadas... Isso até que a um certo dia, o Percival Romildo ligou para ela super feliz, dizendo que precisava lhe contar uma ótima novidade.

- Zele, eu voltei com minha namorada!!! – a voz dele era só euforia.

- Você o que? E eu? – Zenaide Leticia perguntou atonita.

- Você é minha amiga! Eu sempre vou ser seu melhor amigo. Nunca vou me esquecer o quanto você me ajudou naquela noite...

E diante a tal realidade, Zenaide Leticia resolveu entender que contos de fada não existem e principes encantados não surgem pelo caminho. .. Ah quanto o porquê do Percival Romildo estar deitado na calçada aquele dia isso é uma outra história, mas desde já os aviso não seria outro conto de fadas.


quarta-feira, 2 de junho de 2010


A CRIANÇA E A PARADA GAY.

O pequeno Wagner Welvio, de 7 anos, prestava uma atenção incomum para sua idade ao jornal da noite, onde passava uma matéria sobre a Parada Gay que aconteceria no próximo fim de semana em São Paulo.


- Filho, já já é hora de dormir, por que você não vai brincar mais um pouco? - Perguntou Rosineide Virginia ao seu caçula.


- Mãe o que é gay?


Rosineide Virginia parou de súbito e tentou absorver a pergunta inesperada. Gaguejou por um segundo, mas sabia no fim, que hora ou outra no mundo que viviamos teria que dar este tipo de explicação.


- Bem filho, veja bem, um gay...


- Não, mamãe eu sei que gay é homem que namora com homem. Mas porque chama assim?


- Você sabe? Como você sabe?


- Porque eu vejo TV.


Mais uma vez ela parou e mergulhou rapidamente em seus pensamentos. Questionou-se em silêncio se era uma boa mãe, porque que tipo de programas seu filho estava vendo para saber tal informação?


- Ah filho, eu não sei exatamente de onde vem a origem da palavra gay.


- Por que existe “Parada Gay” mãe? O que quer dizer? Quem tiver parado é gay? Eu vi que vai todo mundo na Paulista. Eles não têm tempo de se encontrarem e vão lá para se ver? E ser gay é normal mamãe?


- Não filho, não é que quem ta parado é gay...


- Ah bom, porque se não, não ia ter gay nenhum nessa parada, porque mostraram na TV que eles ficam dançando de fantasias engraçadas. Não tinha ninguém parado.


- E quanto a ser normal, todos têm que se preocupar em ser felizes. Se um rapaz namorar um outro homem e isso o fazer feliz, que seja. Isto será o normal dele.


- E por que tem pessoas que ficam xingando os gays, mamãe, se é normal?


- Porque tem pessoas que são bobas, preconceituosas. Não sabem aceitar alguém que é diferente delas.


O menino parou e pensou em silêncio por uns segundos.


- Vai ter um monte de juiz de futebol na Parada né mamãe?


- Nossa, filho, não sei, mas por que pergunta?


- O papai sempre fala quando vê futebol: “Esse juiz só pode ser gay!”