quarta-feira, 19 de setembro de 2012

GRITOS DE AMOR (OU NÃO) .



A noite tinha tudo para ser quente. Era a noite de comemoração de 9 meses de namoro. Nove perfeitos meses de relacionamento. E tudo estava indo bem, conforme o planejado. Pedro Pietro tinha feito uma reserva em um restaurante ótimo da cidade, comida surpreendente acompanhada de um bom vinho. Vinho, qual diga-se de passagem, tinha deixado Clara Zulmira “frisante”.

O próximo passo era um motelzinho. Claro, óbvio. Como se comemora aniversário de namoro? Levando a vó no parque, é que não há de ser. Nada contra as avós, mas enfim... Chegaram no clima e com tudo. Pedro Pietro com a mão no tche tche re tche tche já para fazer o lerele lerele, esperando que a sua Zuclinha pedisse todo o tchu e o tcha que eles tinham direito.

Deitaram na cama já puxando um a roupa do outro. Aquela loucura. Aquele calor. Aquilo! Sabe aquilo?

- Ai minha Zuclinha, fala aqui pro seu PP o que você quer, fala? - (eu quero tchuu, eu quero tchaa...)

Antes mesmo que Clara Zulmira pudesse devolver a resposta foram “interrompidos” por um som “suspeito” vindo além da parede, vulgo, quarto vizinho.

Tentaram ignorar e fingir que não tinha ouvido nada. Pedro Pietro firmou a mão sobre o corpo da sua namorada e sussurrou baixinho em seu ouvido: “Fala, fala.”. Ela ao ouvi-lo, sorriu safadinha e abriu a boca pra falar novamente. Mas foi neste exato momento que o som “além parede” surgiu de novo.

- Hey babyzita, deixa eles pra lá. Pensa aqui. Pensa em mim. - (chore por mim, liga pra mim, não não liga pra ele...)

- Ai desculpa PP, sabe o que babyzita quer? Quero gritar pra você. AAAAAAA. AAAAAAAAAAAAhhhhhhhhh. Uhhhhhhhhhhh. Vai PP, me faz gritar!!! - a intenção da Clara Zulmira estava clara, se me permitem o trocadilho. Ela apenas estava querendo encobrir os gritos vindos do quarto ao lado, que estavam tirando toda a sua concentração.

- Isso Zuclinha! Assim você me mata! - (ai se eu te pego, ai ai se eu te pego).

Só que os gritos dos vizinhos, vieram numa crescente a preencher todo o ambiente. Não eram gemidos, eram urros. Não era frases calorosas, era o próprio inferno queimando em brasa. Sendo assim, Pedro Pietro, também se rendeu a competição.

- VAI ZUZUCLA. ASSIM! VEM NENÉM – (vem neném, vem neném, neném vem...)

- TO INDO, MEU PP. PEGA NA MINHA CARNE E ME USA! - Oi? Clara Zulmira estava realmente desconcentrada, que tipo de pedido tinha sido aquele?

Só que nada adiantava, os gritos que moravam ao lado, estavam cada vez mais presentes em seus ouvidos. E eram de puro deleite, como se o mundo estivesse acabando ali e nada mais importasse.

Pedro Pietro já estava se armando para a guerra, tinha ideias na cabeça que iria fazer sua namorada gritar muito. Seria agora que ele ia mostrar aos coelhinhos vizinhos quem é que mandava ali. Encheu o peito de ar, começou a beijar o pescoço da sua namorada e ia descer... Clara Zulmira pegou rápido a intenção do seu parceiro.

- AI PP !!! QUE DELICIA PP! VEM SER O GONGO PRA NOS SALVAR!! - Oi? Heim?

“TRIMMM, TRIMMM.” O telefone tocou estridente pelo quarto. Pedro Pietro atendeu num misto de susto e curiosidade, logo veio uma voz séria em resposta.

- Senhor, por favor, cuidado com tanto barulho, já temos clientes reclamando.

- Aí o champs, tá reclamando com o quarto errado. Reclama com o quarto ao lado do nosso!

Desligaram e por um minuto houve um silêncio sombrio. Até que ouviram o telefone soar no apartamento “escandaloso”. Tentaram colar o ouvido na parede para ouvir parte da chamada de atenção, mas pelo menos ao atender o telefone o rapaz sabia falar baixo. Suspiraram aliviados e se olharam imaginando que teriam que reacender o fogo entre eles.

No entanto, para a surpresa de ambos, a reclamação teve efeito contrario e não demorou muito berros enfurecidos (de prazer, será?) adentraram ao quarto. Pedro Pietro não pensou duas vezes, para ele já tinha sido o bastante. Foi até a parede que os separavam e esmurrou a mesma.

- Aí o champs, qual que é? Ta transando ou tá ensaiando pra vender peixe na feira livre?? Vou aí, te enfiar uns supapos e quero ver você gritar, mas de dor, tá me ouvindo champs? - gritava ele, totalmente fora de si aos socos na parede.

“TRIMMMMM, TRIMMMMMMMMM”

- Senhor, por favor, não ameace o quarto ao lado. - a voz séria da portaria vinha novamente.

E assim, qualquer último vestígio de clima deu-se por acabado. Eles riram da situação. Aliás, gargalharam. Alto, diga-se de passagem. Não restava mais o que ser feito, além de vestir a roupa e ir embora.

Assim que pode parar de rir, escreveu um e-mail ao motel, relatando todo seu constrangimento e pedindo por uma reforma acústica no ambiente. Dias depois, recebeu uma resposta, com uma cortesia para um período. Mas desta vez, Pedro Pietro já estava decidido, levaria mordaças. Se não para eles, podia ser para...

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

VOU DE TAXI, (VO)CÊ (NÃO) SABE.

Essa história é minha, minha mesmo, que vem da situação: "aconteceu comigo". Por isso, não terá nome composto. Ou quase terá, pois teremos também o Ronisvaldo. E juro, é de verdade, este é o nome. Quase composto, certo?

Sabe uma situação que você nunca imagina passar? Pois então, ela acontece. Mais cedo ou mais tarde, de onde você menos espera, ela acontece.

Eu pedi um taxi (em uma companhia conhecida de taxi de São Paulo), ato corriqueiro para mim. Sou preguiçosa, adoro taxi! E logo recebi a mensagem no celular: "O seu motorista Ronisvaldo, já se encontra no local". Segui para o carro. E como procedimento normal, informei o local de destino. Após me ouvir, logo me questionou:

- Sua voz é sempre assim? - referindo-se a minha roquidão.

- Não, não é. - ri, já acostumada a pergunta. - Está assim devido a uma alergia.

- Nossa, alergia... Desculpa dizer, eu achei sexy.

Bom, este é o momento de que eu falava acima, coisas que acontecem quando você menos espera. E diante ao inesperado, apenas sorri.

- Mas é alergia, como rinite? - prosseguiu ele no papo. - Alergia a tapete, cortina...

- Isso, é rinite. Mas não tenho nada disso em casa, porque sei que faz mal.

- Nem cachorro ou gato?

- Nem isso.

Ele riu de canto de boca, me olhando pelo retrovisor, e arriscou-se:

- Nem cachorro de duas patas?

- Não, nem esse. - apesar que sabia que deveria mentir nesse momento, mas a verdade saiu mais rápido que eu pudesse controlar.

Sim, a pergunta já era o segundo atrevimento da noite, mas mal sabia eu que o pior ainda estava por vir.

Ele virou-se quase que assustado para trás, olhando-me desacreditado. E por um momento, o carro levemente desgovernou.

- Como pode?? Como assim? Isso é sério mesmo, você é solteira?

- Sou. - respondi com toda a paciência que Deus me abençoou.

- Não fala isso! Não posso acreditar! Você solteira, eu solteiro, assim fico com vontade de te agarrar aqui mesmo! - falou sem pausas e bastante eufórico.

Para tudo! Congela. Imagina. Crê? Pois então, difícil de acreditar, certo? Certo, não te tiro a razão... Eu sempre estou escrevendo histórias não é mesmo? Poderia estar inventando: "Ronisvaldo, o maníaco do taxi.". E é por isso, mesmo, por esta sua dúvida que eu já previa, eu comecei a gravar a conversa... Que em algum momento, alguém descobriria esta gravação e ficaria sabendo, que meu rim, foi levado por Ronisvaldo, o taxista.

- Para o carro. - falei entre os dentes.

- O que? Sério? Quer que eu pare?? Eu paro agora mesmo! - entendendo o que bem lhe convinha, que era, que eu estava enlouquecida por ele, e ao ouvi-lo dizer que iria me agarrar, desesperadamente pediria: "Pare o carro Honey, e me agarra então agora!".

Oh Ronisvaldo, meu filho, desce pra Terra, né queridão!

- Para o carro que é pra eu descer!!!! - falei bem séria.

Mentalmente o vi molhado por um balde de água fria.

- Não, Aline, desculpa. Desculpa minha espontainedade. Juro que não fiz por mal. É que é muito para mim acreditar que você é solteira. Até fiquei desnorteado agora.

- Você não tem GPS? Não há necessidade de ficarmos perdidos agora.

- Claro, não vamos ficar perdidos meu anjo, fica tranquila. Não se preocupa, que você não vai pagar mais do que o justo. Até mesmo porque, o dinheiro é o que menos me interessa agora. O que importa no momento, é a sua compania.

É, meu amigo-leitor, Ronisvaldo era guerreiro e não desistia nunca!

- Você é sempre tão carente assim com seus passageiros?

- Não, meu anjo, não é carência, e claro que não sou assim. Nem posso ser, mas não é todo dia que entra no meu taxi uma mulher tão atraente. Você me atraiu mesmo.

Neste momento, eu já estava rindo. Não tinha como! Era muito absurdo. E já que estava absurdo, podia piorar mais um pouco, não é? Ele começou a me descrever com detalhes, as séries de musculação dele. Como ele tinha facilidade para pegar músculo. E mandou um: "Posso ser seu personal trainner, se quiser." no meio da narrativa esportiva. No entanto, obviamente era mentira, que ele mesmo concluiu com:

- Por você, viro o que você quiser!

Entregou-me seu cartão, e ao ser perguntado se ele ficava em minha região, tive que ouvi-lo responder:

- Eu fico na sua porta, meu anjo, assim que você me chamar, eu vou estar na sua porta te esperando.

Perguntou? Toma, tem resposta.

Finalmente, chegamos ao meu destino. Ele reforçou ainda o pedido para ligar para ele sempre que eu precisasse de "qualquer" coisa. Que claramente, se implicava em além das habilidades taxista dele.

- Não esquece Aline, se precisar me chama. Vou estar na porta da sua casa, com uma bandeja cheia de bala de gengibre te esperando.

Balas de gengibre... Mereço?

O pior que essa semana peguei um que me chamou para um pagode... Mas bom, isso seria outra história...


PS: Não denunciei o Ronisvaldo para a cia de taxi com a minha gravação e nem penso fazer, afinal, ele me rendeu um post, e isso tem lá sua valia...