
Era a primeira vez que ela se encontrava nessa situação. Empregos sempre brotaram a sua porta sem que ela precisasse ser entrevistada. A única entrevista que ela imaginava em sua vida era a do Jô (Soares, sabe?). Sim, um dia ela iria sentar naquele sofá e falar do seu livro. Mas isso é outra história, vamos voltar a entrevista.
A empregadora a olhou de modo simpático e disse sem reservas, que não estava concentrada na conversa, estava pensando em mil coisas. Pensou automaticamente: “Vamos nos dar as mãos!” e quando externou o pensamento, a mulher suspirou aliviada e silenciosamente agradecida por ela a compreender. E então, disse que abriria seu currículo para focar nela e automaticamente, desta vez, pensou: “Ferrou.”.
Por que ferrou? Porque currículo, na sua humilde opinião é balela. Muita ladainha para pouco feito. Não que o currículo dela esteja mentindo em algo. Não está. E talvez seja justamente por isso, que de repente não estava atrativo. Currículo para ela é conto de fadas, acredita na historinha quem quer. O que vale mesmo é a experiência de vida. E esta ela tinha bem.
Tinha varias graduações em sua vida. Em diversos cursos. “Como se recuperar pós rebeldia adolescente.” , “Supere mudança de cidades, amigos e vida”, “Amores que vem e vão.” com especialidade em “Feridas que se fecham.” , cursou também “Pedras no caminho, obstáculos que você pode e deve ultrapassar.” E ainda, um curso de economia bem importante: “Como sobreviver quando seu salário acaba no meio do mês?”. Sua experiência de vida ia bem além das palavras difíceis copiadas de internet que se tem em um currículo.
Ela acreditava nisso. Na sua capacidade. Sua vivência. E não ia fingir ser intelectual. Muito mais que “ter” diploma. Ela “era” o conhecimento pratico. Não que desmerecesse aos que estudam. Obvio, que não. Mas desmerecia a falta de ponderação. Há casos e casos. E em certos casos, uma faculdade não diz nada.
Havia enviado seu currículo aquela empresa na tarde anterior e muito rápido foi chamada para conversar, logo no dia seguinte. Mais rápido ainda se passou o tempo da entrevista, apesar dela ter ficado uma hora lá respondendo todas as perguntas sem pestanejar. Ela se sentiu realmente bem no ambiente, sentiu-se aconchegada. A entrevista (aquela que foi a primeira em sua vida!) levou um rumo descontraído e de entendimento mutuo. A empregadora informou-a no final da conversa que recebeu em torno de 400 currículos, que já havia entrevistado outras pessoas e que tomaria sua decisão após 3 dias, logo assim ela seria comunicada na data estipulada. Ao se despedirem ela ainda arriscou uma despedida ousada: “Nos vemos semana que vem então.” A empregadora sorriu e não pode deixar de dizer: “Vou torcer!”
Duas horas depois, ela recebia um telefonema informando-a que a vaga era sua. Segunda – feira, próxima, começa sua nova vida e mais um “capitulo” do seu currículo será escrito.